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terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Vida apressada



salvador_dali
The persistence of Memory - Salvador Dali
   Vocês já repararam que ninguém mais, hoje em dia, tem tempo? Mal levantamos da cama e já estamos atrasados!


   O dia parece cada vez mais curto. Corremos de manhã até a noite e para tudo temos um horário apertado: falamos rapidamente ao telefone (não podemos perder tempo!), conversamos rapidamente com nossos filhos (não podemos perder tempo!), batucamos impacientes na mesinha do computador porque a conexão vai demorar trinta segundos (não podemos perder tempo!), enfiamos a comida na boca sem sentir bem o sabor dos alimentos (não podemos perder tempo!), engolimos o café e queimamos a língua porque ele demora a esfriar (não podemos perder tempo!), damos uma olhada no jornal, pulando páginas, misturando tudo (não podemos perder tempo!)... Afinal, para que queremos tempo?


  Foi observando essa verdadeira obsessão com o tempo que comecei a refletir sobre a importância de se trabalhar esse assunto com os alunos. Porque eles também parecem não ter tempo para mais nada. A agenda de tarefas e compromissos dos nossos alunos é assombrosa! E parece que os pais não podem ver uma brechinha que já inventam alguma atividade, porque seus filhos "não podem perder tempo"! E assim vamos ensinando essa correria aos jovens, que começam a pensar que isso é que é normal. Se virem uma pessoa fazendo as coisas com calma, comendo devagar, lendo um livro página por página, conversando tranqüilamente... vão pensar que se trata de um extraterrestre.


   E, no entanto, é preciso mostrar a eles que há uma outra forma de viver. Que certas coisas, para serem prazerosas ou proveitosas, devem ser feitas sem pressa. Conversar em família, por exemplo, é uma delas. Não se pode conversar, trocar confidências, curtir a presença uns dos outros, olhando toda hora para o relógio, com a sensação de "estar perdendo tempo".


   Dou aulas de leitura e vejo que um dos obstáculos para a boa compreensão de textos é a pressa com que muitos alunos lêem. Parece que fazem uma competição para ver quem termina mais depressa. Por isso, peço que leiam mais devagar, que prestem atenção no que estão lendo, que meditem ou reflitam sobre o tema. Percebo que muitos deles começam a se impacientar — querem acabar logo, não importa a qualidade do trabalho, o importante é chegar logo ao fim... Com esses, é preciso um longo trabalho de reeducação. Mas nós, os professores, precisamos dar o exemplo. E não só os professores. Todos aqueles que se relacionam com os alunos precisam mostrar que têm tempo, sim, para conversar e ouvir com calma. É preciso também respeitar o ritmos individuais e não submeter a maioria dos alunos ao ritmo dos mais apressados. Na vida, como na escola, nem sempre os mais apressados são os mais eficientes.


   O tempo é um bem muito precioso. Gastá-lo numa agitação frenética e sem sentido não é uma forma inteligente de viver. Saibamos reservar tempo para os momentos mais importantes da nossa vida, para que, mais tarde, não venhamos a nos arrepender de não ter dito uma certa palavra, de não ter feito um certo gesto, de não ter tido uma certa conversa, porque não tivemos tempo... 
Fonte: http://www.douglastufano.com.br/galeria_4.html

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