Por Samuel Ferreira Damaciano
Acredito que hoje as vossas caixas de e-mail receberão inúmeras mensagens sobre o assunto. São aquelas mensagens que nos dão um roteiro certeiro de como resolver todos os problemas do mundo, ou aquelas que de tamanha profundidade e conteúdo moral, todos os meses ressurgem em sua caixa sem que você saiba quem foi o amigo que lhe enviou da ultima vez.
Elas estarão dizendo que devemos preservar a natureza, reciclar o lixo, ter consumo consciente da água e da eletricidade entre outras incitações positivas, todas cheias de palavras que sem reflexão, embasamento e atitudes não passarão de clichês: sustentabilidade, preservação, conservação, “bioalgumacoisa”, “ecoalgumacoisa” ,”salvaralgumacoisa“ e ”salvaralgúem” , por aí vai...
Não estou aqui colocando-as em patamar menor, tratando com descaso, muito pelo contrário, são mensagens importantes e que ecoam de maneira diferente em cada um; eu mesmo sou um frequentador assíduo desse vocabulário,pois insisto comigo mesmo para que da teoria migre para a prática de cada uma delas ou de uma que seja ao menos.
Eu estou aqui pensando que tipo de mensagem gostaria de receber hoje, pensei então em algumas coisas que me aconteceram essa semana e que me tomaram bom tempo de reflexão.
Lembrei basicamente de 3 fatos:
(1) uma matéria de telejornal onde uma entrevistada disse ter comprado 8 pares de sapato no mês de maio;
(2) uma discussão que não se sabe onde começou nem como terminou, mas que no final tudo ficou esclarecido;
(3) uma matéria que assisti hoje pela manha sobre o caso de pessoas (comunidades Kilombola, ambientalistas, trabalhadores rurais entre outros) que vivem sob escolta policial por sofrerem ameaças de morte por disputa de terras ou por lutarem por causas idealistas.
Então neste dia estou mandando para o Matheus, um e-mail sobre meio ambiente, com a seguinte mensagem:
Matheus,
Lí este e-mail e lembrei de você:
No dia do meio ambiente faça assim:
1. Não compre 8 pares de sapatos no período de 30 dias para você nem para seus filhos nem para sua esposa ou namorada. Mesmo que você e ela trabalhem e tenham dinheiro suficiente para comprar a fábrica de sapatos não aceite isso como algo normal. Caso sapatos seja algo já superado, utilize estas orientações para qualquer outro item que tenha grande durabilidade e não precise ser renovado semanalmente, mensalmente, dias de pagamento, diante de uma promoção ou queima de estoque. Obs.: para estes casos, onde se lê SAPATOS, substitua por um desses itens: CARRO, CELULAR, TV DE PLASMA, RELÓGIO.
2. Esforce-se para esclarecer algum mau entendido ou ruído de comunicação.
Isso tem a ver com a sua consciência, valores e ética, pois se você age bem intencionado, com honestidade, então pode defender uma posição onde ocorreu mal entendido e um problema de comunicação que possa ter gerado desconforto, melindre, “bate-boca”. Se as outras partes estiverem dispostas a resolverem o problema com maturidade tudo vai acabar bem, caso não seja assim, faça a sua parte e volte para casa com a consciência tranquila; mesmo que outros não creiam na sua honestidade, inocência ou em uma palavra que foi mal aplicada ou mal interpretada; você sabe disso e pode sempre contar a versão verdadeira dos fatos. Como diz um amigo meu: “nada paga uma consciência tranquila”. Também, se esforce para que as pessoas vejam quem você é de verdade; precisamos no dia-a-dia viver vários personagens, pois cada ambiente exige que tenhamos determinado comportamento e postura, mas é importante manter nossa autenticidade;
se você é do bem vai levar isso pra onde for e para os que agem mal intencionados, arquem com as consequências.
3. Em último, não aceite a barbárie.
Não reproduza discursos que defendem métodos violentos de resolverem problemas. São discursos bárbaros, que ajudam a proliferar a violência e manter o estado de caos. Temos, cada um de nós, maneiras diferentes de externar diferentes aspectos da violência. Preconceitos, egoísmo, indiferença, apatia são exemplos dentre os milhares. Poucos recusam reagir com agressividade, pois tratar de maneira violenta é uma forma de afastar os problemas da gente. É como dar uma paulada num vira-lata esfomeado. Tenha sempre o AMOR como a melhor saída. O AMOR educa através dos EXEMPLOS. O “Chico” disse e eu concordo com ele, que nossa vida é como um livro, cada dia uma página em branco que iremos escrever com a tinta das nossas escolhas e atitudes; cada gesto, cada palavra, cada afirmação é uma tinta perene neste livro. Diante da barbárie proteste deixe claro que você se posiciona contra, não deixe dúvidas; as pessoas que mais admiramos são aqueles que tem coragem de defenderem seus pontos de vista sem medo do que outros pensam. É necessário mais coragem para manifestar o sentimento AMOR do que coragem para ser violento. Ser violento é fácil e a longo prazo você terá sérios prejuízos. O AMOR é o melhor investimento que fazemos no futuro nosso e dos outros.
Matheus,
Claro que são muitas as mensagens melhores do que esta, só quero que saiba no que acredito, que se não vencermos a nós mesmos nada adianta tentar salvar o mundo.
Neste dia 05, dia Mundial do Meio Ambiente, o Meio Ambiente que eu e você, os únicos que lerão estas palavras, devemos salvar primeiro é o nosso Meio Ambiente “Interior”.
***
(O Matheus a que se refere o texto acima é o personagem fictício de uma aventura pelo mundo da ciência, ecologia, meio-ambiente e pelo universo infanto-juvenil cujas aventuras podem ser vistas no blog: "Matheus pra onde vai o lixo?" )
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