Dizem que nós, brasileiros, somos peritos na arte de "dar um jeitinho". Usando criatividade e esperteza, conseguimos contornar os mais diferentes obstáculos para obter o que queremos. Mas isso que poderia ser visto até como uma qualidade do nosso modo de ser já está se transformando numa praga. No fundo, temos jeito até demais.
É só abrir os jornais. Há sempre um jeitinho para negociatas, suborno. Há jeito para enganar a fiscalização, o radar, o guarda de trânsito. Há jeitos e jeitos para burlar normas de segurança, desrespeitar as leis, colar nos exames, comprar trabalhos escolares. E parece que quem não sabe ou não pode "dar um jeitinho" faz papel de bobo.
Será que é assim se constrói uma sociedade civilizada e mais justa? Será que é assim que se formam cidadãos? Acho que precisamos nos preocupar um pouco mais com essa questão, porque certos valores estão se perdendo. O esforço contínuo, a dedicação, o empenho em fazer bem uma tarefa, parece que isso tudo está fora de moda. Para que tanto trabalho se, no fim, sempre se "dá um jeito"?
Infelizmente, muitos professores, sempre dispostos a ajudar os alunos, acabam por reforçar esse comportamento, pois aceitam trabalhos fora do prazo, relevam faltas injustificadas, são condescendentes demais nas avaliações. Não percebem que os que dão duro e se esforçam estão lá no canto, só olhando para ver o que acontecerá ao pessoal folgado. E ficam com cara de tacho quando veem que, no fim, realmente, "deu-se um jeitinho" e todo mundo ficou bem. O que vocês acham que esses alunos esforçados estão aprendendo? Estão aprendendo que a escola trata da mesma forma quem se esforça e quem não se esforça, quem se dedica e quem não se dedica. Não estou falando de alunos com dificuldades ou problemas de apendizagem. Estou me referindo àqueles que poderiam, sim, produzir mais e melhor e não o fazem porque se acomodam, porque sabem que, no fim, "dá-se um jeito" e se consegue uma avaliação positiva. E essa é uma péssima lição que estamos ensinando, pois não só desestimula os que se esforçam, como reforça a ideia de que, no fim, tudo se resolve com uma conversinha, um jeitinho, uma chance a mais.
Dar oportunidades para a recuperação de um aluno é mais que justo. Mas aceitar qualquer desculpa e facilitar as coisas só para não parecer rigoroso (como se isso fosse um defeito), me parece uma atitude equivocada, além de ser uma tremenda injustiça com aqueles que cumpriram o combinado.
Acho que é assim que vai se desenvolvendo o nosso "jeitinho". Começa com a criança aprendendo que a falta de rigor permite que não se cumpra o combinado, que na última hora o pai ou a mãe vai falar com a professora e dará "um jeitinho", livrando-a de assumir o ônus de sua falta de responsabilidade. Aliás, muitas vezes são os próprios pais que inventam desculpas para tirar o filho de uma situação dessas, mostrando-lhes, na prática, como funciona o famoso "jeitinho brasileiro". Depois, em casa, vão comemorar a tapeação...
Não, não podemos concordar com isso. A escola deve ser firme e fazer a criança compreender que, para os professores, a dedicação séria, o empenho e o cumprimento dos deveres são atitudes positivas que vão ser levadas em conta. Acho que isso seria uma forma de combater a praga em que está se transformando o "jeitinho brasileiro".
Fonte: http://www.douglastufano.com.br/galeria_4.html
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