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quinta-feira, 15 de março de 2012

Cheche de Marmanjo

Por Rosely Sayão
Se há um tipo de estabelecimento que cresce nas cidades é o depósito. Há depósitos para aquilo que não queremos mais por perto, que não usamos mais. Poderiam ser chamados de depósitos de lixo, mas nem sempre é lixo o que eles guardam.

O mundo do consumo fez crescer vertiginosamente o descarte: descartamos o aparelho de telefone celular quase novo porque saiu um outro com novíssimas funções.

Descartamos o computador recente e em pleno funcionamento porque saiu um modelo menor e mais leve; descartamos o sofá da sala que já tem o nosso cheiro e se adaptou ao formato de nosso corpo porque a linha em uso agora é de outro estilo; e o aparelho de TV porque já está ultrapassado etc.

Queremos descartar para poder consumir mais. E isso transformou-se em um problema, já que o que não usamos mais atrapalha nossa vida, dá uma aparência a ela que rejeitamos, recusamos.

Há um outro tipo de estabelecimento que também cresce nas cidades, não tanto em quantidade, e sim na ampliação dos serviços que oferece: a escola.

Até poucos anos atrás, a escola era o lugar para onde os mais novos eram encaminhados com o objetivo de estudar e/ou aprender a conviver com outros.

Hoje, a escola transformou-se em um local que serve para muitas outras coisas.
Ela serve, por exemplo, para abrigar crianças (falo de crianças integrantes de famílias de classe média para cima) cujos pais trabalham tanto que não podem ir buscar seus filhos no horário que as aulas terminam. Dessa maneira, a escola permanece aberta até altas horas, até que os pais sejam liberados de seus afazeres e possam ir buscar seus rebentos.

Há também as escolas que tentam satisfazer necessidades das famílias de seus alunos: montam pequenas lojas de conveniência e até academias de ginástica para que os pais aproveitem e já façam por lá mesmo o que querem e precisam enquanto os filhos ficam por lá, seguros.

Ah! E não podemos esquecer dos restaurantes escolares: para que os pais possam ter a oportunidade de fazer as refeições com seus filhos, por que não oferecer lá mesmo, dentro da escola, um local adequado para tanto?

E o que dizer da indústria das chamadas "atividades extracurriculares"? Elas servem mesmo é para que os mais novos tenham mais o que fazer no espaço escolar.

Pois agora surgiu uma nova moda: o ensino médio em tempo integral. Os adolescentes podem passar o dia todo na escola, pagando mais caro por isso, é lógico.

Além do período das aulas regulares, eles têm todo o outro período para dormir, descansar, fazer seus deveres "de casa", realizar projetos diferenciados, fazer as refeições do dia etc. E etc. E tudo com a supervisão direta de professores, tutores, orientadores, coordenadores de projetos.

A vida deles vai se resumir à escola. Quando vão namorar? Quando vão ficar horas no ócio, trancados no quarto, só tentando entender seu novo corpo, esse mundo, seus pensamentos?

Como disse um desses jovens, ele não queria frequentar o que ele chama -de modo brilhante- de "creche de marmanjo". Ele quer ter o direito de ter a sua própria vida, mas o problema é que seus pais acharam isso uma excelente ideia. E ele já está frequentando a tal creche.

A escola privada está cada vez mais parecida com os depósitos de nossos descartes, não é verdade?

Retirado de:

quarta-feira, 7 de março de 2012

Jovem com Síndrome de Down passa em universidade federal de GO!!

Kallil Assis conseguiu passar no vestibular da Universidade Federal de Goiás. A faculdade de Geografia fica em Jataí, no interior do estado.

Fábio Castro Jataí, GO

                                                                                     

   Kallil chegou com a irmã para o primeiro dia de aula e no caminho já encontrou amigos. Em sala, da primeira fila, acompanhou a apresentação dos professores do curso de Geografia.
    A faixa de parabéns ainda está na porta da casa da família desde o dia em que saiu a lista dos aprovados da Universidade Federal de Goiás. Teve até festa para comemorar essa conquista. “Valeu a pena o apoio que a gente deu para ele. É uma superação, porque muitas pessoas ainda têm preconceito com a Síndrome de Down”, diz a irmã do garoto.
   Na infância, Kallil estudou apenas dois anos em uma escola especial. Depois os pais decidiram que ele iria frequentar um colégio que oferece ensino regular. Lá, Kallil aprendeu não só a ler e a escrever. Foi frequentando a escola e se relacionando com outros estudantes, que ele decidiu dar um passo importante na vida de muita gente: ir para a universidade.
    “Isso é um exemplo para a sociedade em geral começar a observar essas pessoas de uma forma diferente. O mercado de trabalho tem que pensar nessas pessoas como pessoas ativas, que elas conseguem ter sua condição de sobrevivência”, acredita Márcio Freitas, ex-professor de Kallil.
    O maior orgulho da família é que ele concorreu de igual para igual, não teve uma correção diferenciada, um procedimento comum para candidatos com necessidade especial.
    A família torce para que outros portadores da Síndrome de Down sigam o mesmo caminho. “A gente gostaria que não a imagem do Kallil, mas a situação servisse para contribuir com os outros pais que vivem a mesma situação. Para que eles possam acreditar em seus filhos, investir em seus filhos”, diz Eunice Tavares, mãe de Kallil.

Fonte:http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2012/02/jovem-com-sindrome-de-down-passa-em-universidade-federal-de-go.html

Com livros achados no lixo, catadora passa em vestibular no ES!!

    "Obrigado Deus por esse presente, pela luta e por mais essa conquista". Essas foram as palavras escritas pela catadora de lixo Ercília Stanciany, de 41 anos, que foi aprovada no último vestibular da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), para o curso de Artes Plásticas. Apesar de ter interrompido os estudos na infância após terminar a 4ª série do ensino fundamental, depois de adulta, ela continuou a estudar pelos livros que encontrava no lixo.
    A família de Ercília residia em Belo Horizonte, em Minas Gerais, mas há oito anos se mudou para o Espírito Santo. Foi nessa época que ela, sem alternativas para ajudar a sustentar a casa, resolveu ganhar a vida catando materiais recicláveis.
Ercília Stanciany foi aprovada no último vestibular para o curso de Artes Plásticas (Foto: Reprodução/ TV Gazeta)Ercília Stanciany foi aprovada no último vestibular para o curso de Artes Plásticas (Foto: Reprodução/ TV Gazeta)
    "Meu pai dizia que eu nunca seria nada" - Ercília Stanciany, catadora de lixo aprovada na Ufes.
    Ela explicou que o pai a obrigou a parar de ir à escola quando criança para ajudá-lo na marcenaria que trabalhava. "Meu pai falava que de forma alguma eu iria estudar e ainda dizia que eu nunca seria nada na vida", disse.
Livros no lixo
   No lixo, ela encontrou muitos livros e um cartaz que anunciava um curso para jovens e adultos em escolas públicas. Ercília se matriculou e, apesar das dificuldades para ir às aulas, se formou no ensino médio.
   Uma conquista seguiu a outra, já que no último vestibular da Ufes a catadora foi aprovada no curso de Artes Plásticas. "Quando fui assinar minha matrícula eu tremia. Saí de lá emocionada. Cheguei no ponto de ônibus e perdi até a noção de como chegar em casa", contou.
Sobre arte, Ercília é familiarizada e, desde jovem, desenvolve o talento de fazer pinturas em tecido. Sem dúvidas, a maior arte que sabe fazer é transformar a dificuldade em motivação.
"Quando fui assinar minha matrícula eu tremia", disse Ercília. (Foto: Reprodução/ TV Gazeta)"Quando fui assinar minha matrícula eu tremia", disse Ercília. (Foto: Reprodução/ TV Gazeta)
 
Fonte: http://g1.globo.com/espirito-santo/noticia/2012/03/com-livros-achados-no-lixo-catadora-passa-em-vestibular-no-es.html

domingo, 4 de março de 2012

Educação - prática diária de achar soluções possíveis!!

   As teorias educacionais são bonitas, mas se revelam, por vezes, uma muleta para pessoas que não tratam o humano com suas devidas  limitações e plenitudes. As teorias educacionais impõem regras que satisfazem certos interesses, porém estas regras confrontadas com a realidade se tornam, sem uma visão realística,  inócuas.
   Estou sendo pessimista? Pode ser, mas as teorias educacionais,  se olhadas com exatidão não caducam e  com o tempo tornam-se autênticos balaios de gato para que outras tomem à frente e as substituam? Com sua essência baseada em regras de mercado  e mágica contemporaneidade, ou simplesmente pelo apreço do novo elas precisam ser reorientadas de acordo com uma visão nova que nada têm de novo,  na realidade. Se revestem do novo para parecerem novas, mas no fundo são reflexos de idéias que priorizam a educação para o mercado. Infelizmente vejo-as assim, sem qualquer essência de humanidade e teor humanista.
   Não digo que  a teoria seria uma coisa errada, porém é necessário saber que o humano tem certas coisas perenes, que não passam com o tempo, assim como o tempo nada leva do ser humano em seus padrões éticos, e que estes padrões éticos não caducam.
    Não será que estamos gastando muito tempo com o novo pelo novo, e isto está corroendo o presente, pondo ao largo as características que não podem ser deixadas de lado no ser humano, que fazem parte da conquista de séculos de civilidade, apesar de alguns  quererem deitar por terra isto para argumentar que somos sempre uma reconstrução constante ( que é certo de certa forma…)?. Apenas para só fazer valer  interesses mercadológicos consumistas num capitalismo, ou seja lá que ideologia que pregue o novo consumido a todo o custo?
   A necessidade da pesquisa do professor é uma necessidade íntima e é notável quando meditamos sobre nossas aulas e fazemos dela um manancial rico em propostas que não serão apenas intenções, mas a pratica com a práxis; ou seja: que a realidade das aulas do nosso dia  a dia se revelem referências constantes para se determinar o que devemos pensar sobre elas. E isto não é demagogia. É ciência, e das boas. Um professor, o bom professor, deve pensar a sua aula para além do seu raio de ação, dentro da sala de aula, deve revelar com a minúncia constante do seu aparato, suas características um pesquisador, referenciando-se sempre naquilo que propõem aos seus alunos. Sem deixar de lado os valores, valorizar e valorar (pesar) sua atuação e a rede de intenções em que se lança em sua prática.
   Sem uma visão minunciosa, apreende-se pouco e torna sua atuação pobre e reprimida pela realidade ou realidade que lhe tomamos tempo e as atenções inutilmente.
   As teorias educacionais servem para nortear caminhos, não para ser o caminho.  Disse isso ao então dono da Papelaria Mil Koisas, em Atibaia, o Clóvis. Mas ele me respondeu com uma sabedoria tão exata e tão aberta que me causou uma confusão conceitual em mim e uma admiração muito grande para alguém que não era cristão, mas humanamente aberto às possibilidades que a vida oferece. Ele me disse que o importante era o caminho dentro do caminho que percorremos! Isto é típico do pensamento zen-e que me agraciou com a possibilidade das possibilidades nunca esgotadas. Isto verifica-se na realidade vivida e deve ser uma atitude ativa na nossa capacidade de encontrar soluções para os problemas dentro dos problemas: as soluções das soluções…
   Sabendo que os problemas existem e geram outros problemas e que gerarão outros problemas, contudo,   importa que planejemos as soluções que gerarão soluções dentro das soluções. Para cada problema existe a contrapartida dentro de solucioná-la. Sem a perspectiva em aberto nada podemos fazer a não ser cristalizar-nos. E por aí encontraremos problemas insolúveis e realidades impossíveis de aventar soluções. A atitude filosófica de sempre aprender, de sempre ser um aprendiz, revelará a maturidade do professor coadunado com a sua realidade, com seus alunos e com suas convicções éticas e morais.
   Os problemas da educação serão traumáticos somente se não exibirmos seu caráter transformador. A motivação,   a pesquisa, os recursos, a criatividade, a postura e os saberes só serão ativos  e passiveis de um rol de soluções se e somente se tivermos a capacidade de pensarmos em termos reais, não somente em termos teóricos ou jogando a problemática para solução pelo uso de um maquinário azeitado ou coisa que o valha. O dinheiro, ou os recursos orçamentários também não serão a solução se não pensarmos na carga humana que não devemos prescindir, no hábito educativo,  dos profissionais da educação. Eis aí uma questão pouco ventilada: o compromisso ético do educador. Sem este compromisso nada do que foi dito se fará importante. Há uma certa dose de algo que poderíamos chamar de responsabilidade diária do professor consigo mesmo e com aquilo que ele procura e encontra em suas aulas. O caminho dentro do caminho das descobertas deve influenciar o educador em ser mais. Não só um profissional que maneja teorias, mas um praticante que pensa teorias e se revela um pensador que se reformula a cada aula, se possível, na prática. E isto requer uma responsabilidade e uma contínua capacidade de se repensar e pensar o mundo e os caminhos dentro dos caminhos do mundo e daquilo que ele realmente acredita como parte da suas verdades ou das verdades dentro das verdades consideradas no seu íntimo,  e no seu modo de viver, de atuar e de agir.  Na educação constantemente inspirada e inspiradora em revelar um questionamento constante sobre as realidades dos alunos e da vida em geral. Não dando a importância ao novo pelo novo, e sim, do novo em consonância e bem afinado com a consciência de quem se investe como educador e professor que tem sob sua responsabilidade habilitar gente para ser gente – na teoria e na prática.
                                    Nestor Lampros é arte-educador,  e professor de Artes, História em Quadrinhos  e Mangá.
Poeta, ator, artista plástico, roteirista, dramaturgo, arte-educador, pós-graduado em Arte-Educação pela FAAT, em Atibaia. Graduado em Letras pela FESB de Bragança Paulista. Contato: poetanestor@hotmail.com  ou nestorisejima@gmail.com

Vi primeiro no Site http://www.atibaia.com.br/noticias/noticia.asp?numero=24509