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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O tempo e as palavras



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        "Algumas crianças chegaram ao jardim e puzeram-se a atirar á agua migalhinhas de pão. A menor dellas, batendo as mãozinhas, exclamou alegre:
— Mas reparem! Ali está mais um cysne!
Os irmãos, logo que o verificaram, começaram a dansar á margem do lago, dizendo:
— Sim, sim, é verdade, ali está mais um cysne!

   Esse é um trecho do conto "O Patinho Feio", publicado em 1915, pela editora Melhoramentos. Observem a ortografia de algumas palavras: puzeram-se, dellas, cysne, dansar.. Era assim que se escrevia naquela época. Por que não aproveitar a questão do novo Acordo Ortográfico, que entrou em vigor em janeiro deste ano, para conversar com os alunos sobre as mudanças que ocorrem periodicamente na língua escrita? Acho que é uma boa oportunidade para mostrar a eles que as línguas mudam com o tempo, não só a língua oral mas também a escrita. Palavras e expressões desaparecem, caem em desuso. Outras surgem. A pronúncia e o ritmo da fala também se modificam com o passar do tempo.

   Certas expressões, criadas em determinadas situações, podem tornar-se incompreensíveis em pouco tempo. Será que a meninada de hoje sabe que a expressão "cair a ficha" nasceu quando surgiram as fichas de telefone que, quando caíam, permitiam a ligação? Ou que, quando alguém insistia num determinado assunto, a gente costumava pedir para "virar o disco" porque os discos, muito tempo atrás, tinham dois lados? Alguém ainda "embarca em canoa furada"? Ou "tira o cavalo da chuva"? E quem é "uma brasa, mora"? Há quem ainda pense que "desse mato não sai coelho"? É possível "dar com os burros n'água" em nossas cidades?

   Por outro lado, quem imaginaria, há pouco tempo, que "deletar" seria um verbo tão popular? Pois ele saiu da informática e já entrou na linguagem quotidiana: "vou deletar esse cara da minha vida". As expressões e as gírias hoje são outras. E cada vez mais, cada faixa etária e cada grupo social parecem ter sua própria linguagem. Por isso, como dizem os linguistas, precisamos ser "poliglotas" em português.

   O jeito como falamos revela nossa idade. Não adianta querer disfarçar o rosto, pois o hábito de usar certas expressões ou gírias denunciam claramente a época em que fomos jovens. Quando alguém nos diz, por exemplo, que acha fulano "um sujeito quadrado", já temos uma idéia da sua data de nascimento...

   O trabalho com a dimensão temporal das línguas é fascinante. Enfocando a questão da ortografia por esse ângulo, podemos mostrar aos alunos que a escrita das palavras é uma convenção que pode mudar de tempos em tempos. Por isso, nas palestras que tenho dado sobre o novo Acordo Ortográfico, sempre destaco esse ponto: é normal que ocorram mudanças na escrita. Pessoalmente, tenho algumas ressalvas com relação a algumas regras do novo Acordo, mas já que ele está aí, temos de aceitar. Por isso, vamos explicá-lo com calma, sem cobranças imediatas. Em pouco tempo, nós e os alunos nos acostumaremos com a nova ortografia. Mas sem precipitação, pois, como se dizia no meu tempo, devagar com o andor que o santo é de barro.  

Fonte:  http://www.douglastufano.com.br/galeria_4.html

domingo, 22 de janeiro de 2012

Desejo de fuga

   De repente, bate um desejo de fuga...

   Fugir dessa vida moderna, dos celulares, computadores, automóveis, televisão, shopping center e todas essas coisas que foram inventadas para nos facilitarem a vida, mas que, no fundo, nos aprisionam e nos tormentam...

   Desejo de uma vida mais simples em que o pão de cada dia não fosse tão arduamente conquistado. Uma vida em que não houvesse tantas preocupações com coisas que amanhã o tempo vai transformar em pó.

   Como foi que nos enredamos tanto com esse tipo de vida que agora não conseguimos mais mudar, mesmo sabendo que tudo isso não traz satisfação nem felicidade?

   A obsessão pelo trabalho produtivo, pela eficiência profissional. Não perder tempo! Tempo é dinheiro! Quando sair de férias, leve suas tralhas eletrônicas para continuar ligado ao trabalho. Verifique várias vezes por dia sua correspondência eletrônica, mantenha-se a par das cotações da bolsa, não se esqueça de ler os principais jornais. Você precisa vestir a camisa da empresa que o contratou, suar por ela, sacrificar a vida pessoal em benefício do sucesso na carreira. Sucesso! Sucesso a todo custo! Se não for invejado pelos outros é porque você não é bem-sucedido, é um fracassado. Use as roupas da moda para causar boa impressão, para passar a imagem de alguém antenado com seu tempo. A imagem é o que importa. Se não souber escolher a roupa adequada, contrate um assessor. Se não estiver em forma, contrate um personal training. Não fique por fora! Faça ginástica, malhe em academias, corra que nem um desesperado pelos parques e pelas avenidas poluídas, não perca as baladas, freqüente todas as festas, não recuse nenhum convite, dê opiniões sobre qualquer assunto, assista a todos os filmes, ouça todas as músicas, entupa-se de modernidade!

   A engrenagem dessa sociedade neurótica nos envolve de tal maneira que nos sentimos mal se não seguimos suas ordens. Ficamos marginalizados. As pessoas nos olham com pena, como se fôssemos os últimos exemplares de uma raça em extinção.

   Ah! Mas deixem-me sonhar com um outro tipo de vida. Uma vida em que não houvesse tanta cobiça de bens, tantos desejos insaciáveis, tanta correria atrás do vento... Deixem-me pensar que poderia haver um mundo em que a carreira profissional fosse apenas um aspecto da vida, necessário para o sustento, mas de maneira alguma o objetivo principal de uma existência. Uma profissão é importante, mas a vida de um homem não se esgota no trabalho. Não é o trabalho que deve nos dar uma identidade, e sim o relacionamento que cultivamos com outros seres humanos, os laços de afeto e solidariedade que tecemos e mantemos com aqueles com quem convivemos. Como escreveu Tagore, um poeta indiano, "Deus me estima quando trabalho, mas me ama quando canto".

   Saibamos encontrar tempo para o amor e a poesia, para olhar o céu estrelado sobre nossas cabeças e para agradecer a Deus pelo dom da vida.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

"Jeitinho Brasileiro"

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   Dizem que nós, brasileiros, somos peritos na arte de "dar um jeitinho". Usando criatividade e esperteza, conseguimos contornar os mais diferentes obstáculos para obter o que queremos. Mas isso que poderia ser visto até como uma qualidade do nosso modo de ser já está se transformando numa praga. No fundo, temos jeito até demais.  
   É só abrir os jornais. Há sempre um jeitinho para negociatas, suborno. Há jeito para enganar a fiscalização, o radar, o guarda de trânsito. Há jeitos e jeitos para burlar normas de segurança, desrespeitar as leis, colar nos exames, comprar trabalhos escolares. E parece que quem não sabe ou não pode "dar um jeitinho" faz papel de bobo. 
   Será que é assim se constrói uma sociedade civilizada e mais justa? Será que é assim que se formam cidadãos? Acho que precisamos nos preocupar um pouco mais com essa questão, porque certos valores estão se perdendo. O esforço contínuo, a dedicação, o empenho em fazer bem uma tarefa, parece que isso tudo está fora de moda. Para que tanto trabalho se, no fim, sempre se "dá um jeito"?  
   Infelizmente, muitos professores, sempre dispostos a ajudar os alunos, acabam por reforçar esse comportamento, pois aceitam trabalhos fora do prazo, relevam faltas injustificadas, são condescendentes demais nas avaliações. Não percebem que os que dão duro e se esforçam estão lá no canto, só olhando para ver o que acontecerá ao pessoal folgado. E ficam com cara de tacho quando veem que, no fim, realmente, "deu-se um jeitinho" e todo mundo ficou bem. O que vocês acham que esses alunos esforçados estão aprendendo? Estão aprendendo que a escola trata da mesma forma quem se esforça e quem não se esforça, quem se dedica e quem não se dedica. Não estou falando de alunos com dificuldades ou problemas de apendizagem. Estou me referindo àqueles que poderiam, sim, produzir mais e melhor e não o fazem porque se acomodam, porque sabem que, no fim, "dá-se um jeito" e se consegue uma avaliação positiva. E essa é uma péssima lição que estamos ensinando, pois não só desestimula os que se esforçam, como reforça a ideia de que, no fim, tudo se resolve com uma conversinha, um jeitinho, uma chance a mais.   
   Dar oportunidades para a recuperação de um aluno é mais que justo. Mas aceitar qualquer desculpa e facilitar as coisas só para não parecer rigoroso (como se isso fosse um defeito), me parece uma atitude equivocada, além de ser uma tremenda injustiça com aqueles que cumpriram o combinado.      
   Acho que é assim que vai se desenvolvendo o nosso "jeitinho". Começa com a criança aprendendo que a falta de rigor permite que não se cumpra o combinado, que na última hora o pai ou a mãe vai falar com a professora e dará "um jeitinho", livrando-a de assumir o ônus de sua falta de responsabilidade. Aliás, muitas vezes são os próprios pais que inventam desculpas para tirar o filho de uma situação dessas, mostrando-lhes, na prática, como funciona o famoso "jeitinho brasileiro". Depois, em casa, vão comemorar a tapeação...       
   Não, não podemos concordar com isso. A escola deve ser firme e fazer a criança compreender que, para os professores, a dedicação séria, o  empenho e o cumprimento dos deveres são atitudes positivas que vão ser levadas em conta. Acho que isso seria uma forma de combater a praga em que está se transformando o "jeitinho brasileiro".  

Fonte: http://www.douglastufano.com.br/galeria_4.html

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

A vida palpita na literatura



 
Doisneau
 
   Como definir a literatura? Há tantas definições por aí, desde a antiguidade até hoje. Para mim, depois de muitos anos como professor, devo dizer que a literatura nada mais é que uma pergunta. E a boa literatura nada mais é que uma boa pergunta, daquelas para as quais não temos uma resposta definitiva e que nos fazem pensar, às vezes, pela vida toda. Aliás, saber perguntar é uma arte. Disse o escritor francês André Malraux: "O homem não encontra sua imagem na extensão dos conhecimentos que adquire; ele encontra uma imagem de si mesmo nas perguntas que faz.” E é isso que faz a boa literatura: ela nos apresenta perguntas e nos instiga a refletir.

   A experiência da leitura nos faz mergulhar no âmago da vida, nos descortina outras formas de existência, nos abre horizontes insuspeitados, nos leva de volta para dentro de nós mesmos, nos inquieta com perguntas provocantes. Essa é a grande força da literatura e por isso ela deve ser introduzida na sala de aula — porque tem uma função educativa, e não meramente escolar. Deve-se ler literatura para ajudar o aluno a crescer como ser humano, não para treiná-lo a fazer testes escolares.

   Quando lemos literatura, lemos a vida. Quando discutimos um texto, discutimos a vida, as reações humanas, os problemas da existência. Aparentemente, ela nos distancia da realidade, mas só por alguns momentos, pois logo em seguida nos devolve ao mundo ainda mais lúcidos. Como diz o escritor alemão Hermann Hesse, "não devemos ler para esquecer-nos de nós mesmos e de nossa vida quotidiana, mas, ao contrário, para reassumir em nossas mãos firmes e de maneira mais consciente e madura a nossa própria existência. Devemos ir aos livros não como alunos tímidos que temessem aproximar-se de mestres frios e indiferentes; não como os ociosos que passam o tempo a beber. Mas sim, como alpinistas a galgar alturas, como guerreiros que acorrem ao quartel para buscar armas.”

   No mundo de hoje, massificado e massificante, o trabalho com a leitura se torna mais urgente do que nunca. Ajudar o aluno a se tornar um leitor crítico é ajudá-lo a se desenvolver como pessoa, é dar-lhe autonomia de pensamento. Discutir com ele as questões suscitadas pela leitura é estimular-lhe o raciocínio, fazê-lo perceber as várias facetas de um problema, é ensiná-lo a considerar as coisas de outros pontos de vista, a levar em conta os argumentos alheios; é, enfim, ajudá-lo a tornar-se maduro, a ter autocrítica.

   A vida palpita na literatura.

   Saibamos recriar essa vida na sala de aula, ajudando os alunos a perceberem que os livros convidam a um diálogo, a uma troca de idéias, e que toda leitura, no fundo, é um reencontro do leitor consigo mesmo, em busca de respostas para suas inquietações mais profundas.
 
Fonte: http://www.douglastufano.com.br/galeria_4.html

domingo, 15 de janeiro de 2012

Postura de Professor

 
 
 
Saber mais confere autoridade, e não licença para ser autoritário.
   Acho que essa é uma questão muito importante na atividade do magistério e deve ser motivo de reflexão para todos aqueles que seguem ou desejam seguir a carreira de professor.
   Ao longo de quarenta anos de magistério, encontrei muitos especialistas, nas mais diversas disciplinas, que, infelizmente, nunca foram bons professores. Conheciam profundamente a matéria, mas em sala de aula mais confundiam do que explicavam e, o que é pior, do alto de seu saber, muitas vezes olhavam os alunos com ar superior, fazendo com que eles se sentissem humilhados, desenvolvendo neles não a vontade de aprender, mas o desânimo por não conseguir entender as aulas. E é claro que esses alunos acabavam por assumir que a causa do fracasso estava neles, que deveriam ter a obrigação de entender as aulas, por mais confusas que fossem....
   Essa postura equivocada de certos professores é uma das formas assumidas pelo autoritarismo pedagógico, que pode ser percebido em todos os níveis de ensino, do fundamental ao superior.
   Uma coisa é saber o que se vai ensinar; outra coisa é saber ensinar o que se sabe. A atividade docente pressupõe sempre uma postura humilde, isto é, a postura de quem está consciente de suas limitações e, por isso, deve estar preparado para aprender cada vez mais sobre a difícil arte de ensinar. Com o tempo, vamos identificando as atividades que mais entusiasmam os alunos, que facilitam a aprendizagem de certos conceitos, que desenvolvem melhor certas habilidades. Por isso, a experiência de sala de aula conta muito para o bom desempenho do professor. Mas não é garantia de que funcione sempre. Pode ser que, em certas circunstâncias, o professor seja obrigado a repensar completamente sua didática para torná-la mais adequada a uma determinada classe, a determinados alunos. E é justamente por ser mais experiente e saber mais que cabe ao professor mudar seu comportamento, e não, ao contrário, esperar que os alunos é que se adaptem a seu modo de ensinar. Saber a hora de mudar — isso é postura de professor.
   Em nosso país, muitos professores ainda são obrigados a lecionar em escolas com pouquíssimos recursos pedagógicos, o que torna muito difícil a mudança de certos padrões didáticos. Por isso, temos de continuar a reivindicar melhorias no sistema de ensino, temos de cobrar das autoridades mais responsabilidade no trato da questão educacional — mais ações e menos discursos. Mas, em sala de aula, somos educadores, somos professores e nosso compromisso é com o ensino. Por isso, é preciso reconhecer o trabalho magnífico que muitos professores fazem pelo Brasil afora, lecionando em situação precária, sem bibliotecas, sem laboratórios, sem móveis adequados, e, no entanto, conseguindo entusiasmar seus alunos na busca do conhecimento. Isso é postura de professor.
   Muitos leitores dirão: mas essa é uma tarefa muito difícil! É verdade. Não é uma tarefa fácil. Ser professor não é só dominar um assunto, é também não perder o entusiasmo na sala de aula, é emocionar-se ao perceber o progresso de seus alunos, é empenhar-se na busca de melhores métodos de ensino, é usar seus conhecimentos não para humilhar os que não sabem, mas para mostrar-lhes como aprender cada vez mais. Por isso, os verdadeiros professores são pessoas especiais: eles tornam a humanidade melhor.
 
 
Fonte: http://www.douglastufano.com.br/galeria_4.html

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Trabalho, relacionamentos e desafios

   A era da conectividade, das redes sociais e da comunicação eletrônica constante, em meio à tecnologia e aos recursos inteligentes, nada se compara aos relacionamentos, ao calor humano, a ouvir a voz amiga ou um conselho de um colega e a um abraço de comemoração.
  É no ambiente de trabalho, o local onde exercitamos cada qual sua atividade, que encontramos um excelente centro de relacionamentos. As pessoas compartilham a sua vida com gente das mais diversas competências, formações e experiências. Umas com as outras dividem dificuldades, conquistas, sonhos, lamentações, desejos, planos e ideias fantásticas.
   Em meio a isso tudo, com tantos cursos e recursos modernos, fica a pergunta: qual é a nossa maior necessidade? Ainda é lidar com um velho conhecido e cada vez mais importante aspecto: os relacionamentos interpessoais, entre chefes e subordinados, colegas e pares.
    Administrar rotinas e conflitos, alcançar metas e superar limites pode ser encantador ou difícil, mas é vital para o desenvolvimento das relações humanas.
   A interação entre as pessoas é uma competência natural de poucas pessoas. A maioria, que não desenvolveu essa habilidade no convívio com a família, tem o desafio de desenvolvê-la na escola, na universidade ou mesmo no seu local de trabalho.
  Seja você um padeiro, empresário, gari, executivo, funcionário público, motorista, carteiro ou recepcionista, todos temos uma oportunidade generosa da vida: a de superar as adversidades nos relacionamentos e no trabalho. Este desafio é encontrado 365 dias por ano e só depende da sua vontade para superá-lo.
Andrea Dal Maso 
Consultora em gestão de pessoas

Fonte: http://homologodia.ig.com.br/cmlink/portal/opiniao/andrea-dal-maso-trabalho-relacionamentos-e-desafios-1.388602