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terça-feira, 17 de janeiro de 2012

A vida palpita na literatura



 
Doisneau
 
   Como definir a literatura? Há tantas definições por aí, desde a antiguidade até hoje. Para mim, depois de muitos anos como professor, devo dizer que a literatura nada mais é que uma pergunta. E a boa literatura nada mais é que uma boa pergunta, daquelas para as quais não temos uma resposta definitiva e que nos fazem pensar, às vezes, pela vida toda. Aliás, saber perguntar é uma arte. Disse o escritor francês André Malraux: "O homem não encontra sua imagem na extensão dos conhecimentos que adquire; ele encontra uma imagem de si mesmo nas perguntas que faz.” E é isso que faz a boa literatura: ela nos apresenta perguntas e nos instiga a refletir.

   A experiência da leitura nos faz mergulhar no âmago da vida, nos descortina outras formas de existência, nos abre horizontes insuspeitados, nos leva de volta para dentro de nós mesmos, nos inquieta com perguntas provocantes. Essa é a grande força da literatura e por isso ela deve ser introduzida na sala de aula — porque tem uma função educativa, e não meramente escolar. Deve-se ler literatura para ajudar o aluno a crescer como ser humano, não para treiná-lo a fazer testes escolares.

   Quando lemos literatura, lemos a vida. Quando discutimos um texto, discutimos a vida, as reações humanas, os problemas da existência. Aparentemente, ela nos distancia da realidade, mas só por alguns momentos, pois logo em seguida nos devolve ao mundo ainda mais lúcidos. Como diz o escritor alemão Hermann Hesse, "não devemos ler para esquecer-nos de nós mesmos e de nossa vida quotidiana, mas, ao contrário, para reassumir em nossas mãos firmes e de maneira mais consciente e madura a nossa própria existência. Devemos ir aos livros não como alunos tímidos que temessem aproximar-se de mestres frios e indiferentes; não como os ociosos que passam o tempo a beber. Mas sim, como alpinistas a galgar alturas, como guerreiros que acorrem ao quartel para buscar armas.”

   No mundo de hoje, massificado e massificante, o trabalho com a leitura se torna mais urgente do que nunca. Ajudar o aluno a se tornar um leitor crítico é ajudá-lo a se desenvolver como pessoa, é dar-lhe autonomia de pensamento. Discutir com ele as questões suscitadas pela leitura é estimular-lhe o raciocínio, fazê-lo perceber as várias facetas de um problema, é ensiná-lo a considerar as coisas de outros pontos de vista, a levar em conta os argumentos alheios; é, enfim, ajudá-lo a tornar-se maduro, a ter autocrítica.

   A vida palpita na literatura.

   Saibamos recriar essa vida na sala de aula, ajudando os alunos a perceberem que os livros convidam a um diálogo, a uma troca de idéias, e que toda leitura, no fundo, é um reencontro do leitor consigo mesmo, em busca de respostas para suas inquietações mais profundas.
 
Fonte: http://www.douglastufano.com.br/galeria_4.html

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